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Hoje, 28 de julho de 2023, marca os 85 anos da morte de um dos personagens mais emblemáticos e controversos da história do Brasil: Lampião, o lendário cangaceiro.
Vamos mergulhar neste personagem icônico do sertão nordestino. Sua trajetória carrega mistérios, lendas e um legado que atravessa gerações. Convido você a acompanhar essa fascinante jornada pelo universo do cangaço e conhecer mais sobre a figura que deixou uma marca indelével na cultura e na memória coletiva do nosso país. Prepare-se para embarcar em uma viagem no tempo e desvendar os enigmas de Lampião!
O CANGAÇO: tempos de desordem e violência
No início do século XX, o Brasil passava por profundas transformações políticas, culturais e sociais. A República havia sido proclamada em 1889, pondo fim ao regime monárquico, mas evidentemente enfrentando desafios para consolidar a identidade nacional e estabelecer uma ordem política estável.
Nesse cenário, a política foi marcada por uma sucessão de governos instáveis e sujeitos a golpes e revoluções. A chamada "República Velha", que se estendeu de 1889 a 1930, foi dominada por uma elite agrária e urbana, conhecida como "Café com Leite", e formada por oligarquias paulistas e mineiras.
Socialmente, o Brasil padecia de profundas desigualdades. A abolição da escravatura, em 1888, não trouxe a tão esperada inclusão social para os antigos escravos, que enfrentavam dificuldades de acesso à terra, trabalho e educação. O sistema latifundiário predominante perpetuava a concentração de terras e a exploração dos trabalhadores rurais, enquanto nas cidades crescia a mão de obra operária, muitas vezes submetida a condições precárias de trabalho.
O período também trouxe desafios e peculiaridades próprias à região nordeste. A economia era majoritariamente agrícola, com destaque para a produção de cana-de-açúcar, algodão e cacau. No entanto, a região sofria com a seca periódica, que causava graves crises e deslocamentos populacionais em busca de melhores condições de vida.
A falta de infraestrutura e investimentos governamentais agravava as condições de pobreza e vulnerabilidade social, especialmente no sertão. Além disso, a cultura nordestina, com sua rica tradição popular, também passava por um processo de valorização e reconhecimento, com artistas e escritores buscando retratar as particularidades e as lutas do povo nordestino.
Esse era o contexto no início do século XX no Brasil: uma República em busca de estabilidade política, uma cultura em transformação e uma sociedade marcada por profundas desigualdades sociais. As sementes dessas mudanças germinariam nas décadas seguintes, moldando o Brasil que conhecemos hoje.
O cangaço, de sua parte, se destacou como uma forma peculiar de resistência e protesto social. Os cangaceiros eram membros de grupos armados que se rebelavam contra as injustiças sociais e a opressão do poder dominante, representado por latifundiários e políticos locais.
Sob o comando de líderes carismáticos como Lampião, os grupos realizavam incursões violentas, saques, sequestros e emboscadas contra fazendeiros, comerciantes e outras autoridades locais, disseminando medo e instabilidade na região.
Inicialmente, os latifundiários viam certa utilidade no cangaço, já que podiam recorrer a esses grupos para resolver disputas e manter o controle sobre a população local. Além disso, os cangaceiros atuavam como "soldados de aluguel", sendo empregados por esses proprietários de terra para proteger seus interesses e garantir a submissão da população.
A situação mudou quando Getúlio Vargas assumiu o poder em 1930 e estabeleceu uma série de medidas para centralizar o controle do Estado e combater focos de resistência e desordem. O Cangaço, então, passou a ser visto como uma ameaça à estabilidade nacional e uma violação da ordem pública. A figura do cangaceiro, antes romantizada por alguns, foi transformada em um símbolo de desordem e violência, e declarada inimiga do Estado.
Com o objetivo de conter o cangaço, Vargas lançou uma ampla campanha, mobilizando forças policiais e militares para combater os grupos cangaceiros e seus líderes. Lampião, o mais famoso líder cangaceiro, teve sua trajetória encerrada em 1938, quando foi morto em uma emboscada em Sergipe.
O legado do Cangaço perdura até os dias atuais, como um lembrete das complexidades e desafios enfrentados na construção da sociedade e da identidade brasileiras.
Todas as imagens estão sob licença de domínio público, e não têm restrições de direitos autorais.
Today, July 28, 2023, marks the 85th anniversary of the death of one of the most iconic and controversial characters in Brazilian history: Lampião, the legendary cangaceiro.
Let's dive into this iconic character of the Northeastern hinterland. His trajectory carries mysteries, legends and a legacy that crosses generations. I invite you to follow this fascinating journey through the universe of the cangaço and learn more about the figure who left an indelible mark on the culture and collective memory of our country. Get ready to embark on a journey through time and unravel the enigmas of Lampião!
CANGAÇO: times of disorder and violence
At the beginning of the 20th century, Brazil was undergoing profound political, cultural and social transformations. The Republic had been proclaimed in 1889, ending the monarchical regime, but evidently facing challenges to consolidate national identity and establish a stable political order.
In this scenario, politics was characterised by a succession of unstable governments subject to coups and revolutions. The so-called "Old Republic", which lasted from 1889 to 1930, was dominated by an agrarian and urban elite known as the "Café com Leite", formed by oligarchies from São Paulo and Minas Gerais.
Socially, Brazil suffered from deep inequalities. The abolition of slavery in 1888 did not bring the long-awaited social inclusion of former slaves, who faced difficulties in accessing land, labor, and education. The dominant landownership system perpetuated land concentration and the exploitation of rural workers, while the urban labor force grew, often under precarious working conditions.
The period also brought challenges and peculiarities unique to the northeast region. The economy was mainly agricultural, with emphasis on the production of sugar cane, cotton and cocoa. However, the region suffered from periodic droughts that caused severe crises and population displacements in search of better living conditions.
The lack of infrastructure and government investment aggravated the conditions of poverty and social vulnerability, especially in the hinterland. In addition, the culture of the Northeast, with its rich folk tradition, was also undergoing a process of valorization and recognition, with artists and writers seeking to portray the peculiarities and struggles of the Northeastern people in their works.
This was the context of Brazil at the beginning of the 20th century: a republic in search of political stability, a culture in transition, and a society marked by deep social inequalities. The seeds of these changes would germinate in the decades that followed, shaping the Brazil we know today.
The cangaço, for its part, stood out as a peculiar form of resistance and social protest. Cangaceiros were members of armed groups that rebelled against social injustices and the oppression of the dominant power, represented by landowners and local politicians.
Under the command of charismatic leaders like Lampião, the groups carried out violent raids, looting, kidnappings, and ambushes against farmers, traders, and other local authorities, spreading fear and instability throughout the region.
Initially, the landowners saw some utility in the cangaço, since they could rely on these groups to settle disputes and maintain control over the local population. In addition, the cangaceiros acted as "soldiers for hire," hired by these landowners to protect their interests and ensure the submission of the population.
The situation changed when Getúlio Vargas came to power in 1930 and introduced a series of measures to centralize state control and combat pockets of resistance and disorder. The cangaço came to be seen as a threat to national stability and a violation of public order. The figure of the cangaceiro, previously romanticized by some, was transformed into a symbol of disorder and violence and declared an enemy of the state.
To contain the cangaço, Vargas launched a broad campaign, mobilizing police and military forces to fight the cangaceiros and their leaders. Lampião, the most famous cangaceiro leader, was killed in an ambush in Sergipe in 1938.
The legacy of Cangaço continues to this day. It is a reminder of the complexities and challenges of building Brazilian society and identity.
Hoy, 28 de julio de 2023, se cumplen 85 años de la muerte de uno de los personajes más emblemáticos y controvertidos de la historia de Brasil: Lampião, el legendario cangaceiro.
Sumerjámonos en este personaje icónico del interior del noreste. Su trayectoria encierra misterios, leyendas y un legado que atraviesa generaciones. Le invito a seguir este fascinante viaje por el universo del cangaço y a saber más sobre la figura que dejó una huella indeleble en la cultura y la memoria colectiva de nuestro país. ¡Prepárese para embarcarse en un viaje a través del tiempo y desentrañar los enigmas de Lampião!
CANGAÇO: tiempos de desorden y violencia
A principios del siglo XX, Brasil experimentaba profundas transformaciones políticas, culturales y sociales. La República había sido proclamada en 1889, poniendo fin al régimen monárquico, pero evidentemente se enfrentaba a retos para consolidar la identidad nacional y establecer un orden político estable.
En este escenario, la política estuvo marcada por una sucesión de gobiernos inestables sujetos a golpes de Estado y revoluciones. La llamada "Vieja República", que duró de 1889 a 1930, estuvo dominada por una élite agraria y urbana, conocida como el "Café com Leite", y formada por oligarquías de São Paulo y Minas Gerais.
Socialmente, Brasil sufría profundas desigualdades. La abolición de la esclavitud en 1888 no trajo consigo la tan esperada inclusión social de los antiguos esclavos, que tenían dificultades para acceder a la tierra, el trabajo y la educación. El sistema latifundista predominante perpetuó la concentración de la tierra y la explotación de los trabajadores rurales, mientras que en las ciudades crecía la mano de obra, a menudo sometida a condiciones laborales precarias.
El periodo también trajo consigo retos y peculiaridades propias de la región noreste. La economía era principalmente agrícola, con énfasis en la producción de caña de azúcar, algodón y cacao. Sin embargo, la región sufría sequías periódicas, que provocaban graves crisis y desplazamientos de población en busca de mejores condiciones de vida.
La falta de infraestructuras y de inversiones públicas agravó las condiciones de pobreza y vulnerabilidad social, sobre todo en el interior. Además, la cultura nordestina, con su rica tradición popular, también estaba experimentando un proceso de valorización y reconocimiento, con artistas y escritores que intentaban retratar en sus obras las particularidades y las luchas del pueblo nordestino.
Este era el contexto de principios del siglo XX en Brasil: una República en busca de estabilidad política, una cultura en transformación y una sociedad marcada por profundas desigualdades sociales. Las semillas de estos cambios germinarían en las décadas siguientes, moldeando el Brasil que hoy conocemos.
El cangaço, por su parte, destacó como una forma peculiar de resistencia y protesta social. Los cangaceiros eran miembros de grupos armados que se rebelaban contra las injusticias sociales y la opresión del poder dominante, representado por los terratenientes y los políticos locales.
Bajo el mando de líderes carismáticos como Lampião, los grupos llevaron a cabo violentas incursiones, saqueos, secuestros y emboscadas contra agricultores, comerciantes y otras autoridades locales, sembrando el miedo y la inestabilidad en la región.
Inicialmente, los terratenientes vieron cierta utilidad en el cangaço, ya que podían recurrir a estos grupos para resolver disputas y mantener el control sobre la población local. Además, los cangaceiros actuaban como "soldados a sueldo", siendo empleados por estos terratenientes para proteger sus intereses y garantizar la sumisión de la población.
La situación cambió cuando Getúlio Vargas asumió el poder en 1930 y estableció una serie de medidas para centralizar el control estatal y combatir los focos de resistencia y desorden. El cangaceiro pasó a ser considerado una amenaza para la estabilidad nacional y una violación del orden público. La figura del cangaceiro, antes romantizada por algunos, se transformó en símbolo de desorden y violencia, y fue declarada enemiga del Estado.
Para contener al cangaço, Vargas lanzó una amplia campaña, movilizando fuerzas policiales y militares para combatir a los cangaceiros y a sus líderes. Lampião, el líder cangaceiro más famoso, vio terminada su trayectoria en 1938, cuando fue asesinado en una emboscada en Sergipe.
El legado de Cangaço perdura hasta nuestros días, como un recordatorio de las complejidades y desafíos a los que se enfrenta la construcción de la sociedad y la identidad brasileñas.
Todas las imágenes están bajo licencia de dominio público y no tienen restricciones de copyright.
Literalmente uma viagem no tempo, parabéns pelo excelente conteúdo Salette 👏👏👏
E sempre teremos a divisão de opiniões "herói ou bandido". Fato é que o cangaço faz parte da nossa história, da cultura e merece ser lembrado e discutido.