Alive stories, marked memories

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People pass through our lives. Some leave longing, others relief, and a good portion we don't even remember; they've been forgotten. That's a natural process. We also are forgotten, which doesn't imply we are insignificant, just that the space in memory has been filled by time and other people. Sometimes we only forget a name; other times, we remember a moment, but the person's face has faded, just a blur.

Despite many passing through our lives, some stay, regardless of the time that has passed or will pass. This means that somehow, an action was taken to imprint an unforgettable memory. Perhaps it's an irrelevant memory, but the moment was special. There are also bad moments that stay engraved, and no matter how much we try to forget, we feel like they live inside us. Sometimes it's contradictory: good things may disappear, and the bad ones are a challenge not to dwell on, occupying a negative sensation.

Sometimes it takes some artifice for a seemingly forgotten memory to resurface. And for that, all it takes is for a trigger to be activated. Today, while going through some old documents, I stumbled upon an object that brought back a story. A story that started badly but was resolved, and today it gave me a good memory of someone who helped me in a moment when I wouldn't know how to get through. This is a story that shows how some people take a liking to who we are and help us without asking for anything in return, just because they think they're doing us good. This memory is stored and has been recalled; it will remain marked here.

This story dates back to the time when I was a soldier in the Brazilian Army, while I was on guard duty at one of the outer posts of our battalion. The service there was calm; we just had to supervise the passing cars. Because it was an uncomplicated place, every soldier who was on duty there liked it. We were relaxed, and that's where the problem lay. One of those cars that passed by that day belonged to the general of our Brigade, and the lucky one on duty at the time was me.

The approach procedure was all wrong. Everyone did it this way with any car that passed by; even the designated superiors didn't care. They knew it was a trouble-free place, and being relaxed was normal. But our luck was the general passing by, and when he did, he got out of the car furious! He yelled, threatened, and demanded severe punishment for me since a soldier shouldn't have that attitude while on duty. He wasn't wrong; I took the scolding and was chosen to be punished and serve as an example. He demanded punishment for me, there was no escape.

When my shift ended and I went back to the barracks, I realized everyone knew what had happened; bad news travels fast. Some soldiers teased me, others comforted me. It really was a bad situation, bad luck; everyone knew how the duty rotation worked at that location. It didn't take long for my written warning to arrive, and there was a blank space for me to justify, to try to defend myself with reasonable arguments.

I didn't know what to do. After all, it was a general who demanded punishment; what could I say? It was at this moment that someone felt my pain and tried to help me. Now enters the person responsible for today's revived memory, Sergeant Diarle.

Sergeant Diarle approached me a little later, asked me to enter the sergeants' quarters, and tell him the whole story. I told him everything, didn't hesitate in any word. He stopped, reflected for a moment, and took out a sheet, sat at the desk in the quarters, and started writing. When he finished, he mentioned that he was a law graduate and that it had been many years since he defended someone. He handed me the sheet and told me to rewrite it on my warning sheet and deliver it to the responsible party.

A few days passed, and I got the news that I had been acquitted of the accusation. I was in shock; I had already lost hope that I wouldn't be punished for that incident. But Sergeant Diarle performed a miracle with just a pen and words on a sheet, the same sheet I found earlier.

So this whole story brightened my morning with a smile today. I haven't seen Sergeant Diarle since I left the Army; it's been 16 years. But even after all this time, this story brought me a good feeling on a Thursday morning and made me realize how much people can change the course of a story and bring good moments just through memories. This could have been a sad story of how I was stuck in the barracks unjustly for something everyone did, but it wasn't.

We are fragments of memories built by moments and people. I experienced firsthand what it's like to be helped, not only in this context but in many others as well. This helped shape who I am and shows how we can change a little bit of the world with a bit of empathy and solidarity. I'm grateful; I'm better because of these experiences that happened to me.


A real image of the paper written by the sergeant depicted in this story.


Credits:

Cover: created by Canva.
Image Thumbnail: Freepick


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[PT]

Pessoas passam por nossas vidas. Algumas deixam saudades, outras alívio, e boa parte nem lembramos; foram esquecidas. Esse é um processo natural. Também somos esquecidos, o que não implica que sejamos insignificantes, apenas que o espaço da memória foi preenchido pelo tempo e por outras pessoas. Às vezes esquecemos apenas um nome; outras vezes, temos a lembrança de um momento, mas o rosto da pessoa já se foi, é apenas um borrão.

Apesar de muitos passarem por nossas vidas, alguns ficam, independentemente do tempo que passou ou que ainda passará. Isso significa que de alguma forma, uma ação foi executada para que ficasse gravada uma lembrança inapagável. Talvez seja uma lembrança irrelevante, mas o momento foi especial. Também há momentos ruins que ficam gravados, e por mais que tentemos esquecer, temos a sensação de que vivem dentro de nós. Às vezes é contraditório: coisas boas podem até desaparecer, e as ruins são um desafio para não estarem ali ocupando uma sensação ruim.

Às vezes é necessário algum artifício para que a lembrança, que aparentemente estava apagada, volte à tona. E para isso, basta que um gatilho seja acionado. Hoje, mexendo em alguns documentos antigos, deparei-me com um objeto que remeteu a uma história. Uma história que começou ruim, mas que foi solucionada e hoje me deu uma lembrança boa de alguém que me ajudou em um momento em que não saberia como sair. Essa é uma história que mostra como algumas pessoas pegam carinho por quem somos e nos ajudam sem pedir nada em troca, apenas porque acham que estão nos fazendo bem. Essa lembrança está guardada e foi relembrada; ficará marcada aqui.

Esta história remonta ao período em que eu era um soldado do Exército Brasileiro, enquanto estava de guarda em um dos postos exteriores do nosso batalhão. O serviço lá era tranquilo; tínhamos apenas que supervisionar os carros que passavam. Por ser um lugar sem complicações, todo soldado que ficava de plantão por lá gostava. Ficávamos relaxados, e aí é que foi o problema. Um desses carros que passaram por lá naquele dia era do general de nossa Brigada, e o sortudo que estava no momento era eu.

O procedimento de abordagem foi todo errado. Todos faziam dessa forma com qualquer carro que passasse por lá; até mesmo os superiores designados não se importavam. Sabiam que ali era um local sem problemas e ficar relaxado era algo normal. Mas nosso azar foi o general passar por ali e, quando passou, desceu do carro furioso! Gritou, ameaçou e exigiu uma punição severa para mim, já que um soldado não deveria ter aquela postura em um momento de serviço. Ele não estava errado; eu paguei a bronca e fui o sorteado para ser punido e servir de exemplo. Ele exigiu uma punição para mim, não havia escapatória.

Quando o meu plantão terminou e fui para o quartel, percebi que todos sabiam o que tinha acontecido; notícia ruim anda rápido. Alguns soldados me zoaram, outros me consolaram. Realmente foi uma situação ruim, um azar; todos sabiam como era o esquema de tirar serviço naquele local. Não demorou muito para chegar a minha advertência por escrito, e nela havia um local em branco para eu justificar, para tentar me defender com os argumentos cabíveis.

Eu não sabia o que fazer. Afinal, foi um general que exigiu uma punição; o que eu poderia dizer? Foi nesse momento que uma pessoa sentiu minhas dores e tentou me ajudar. Agora entra o responsável pela lembrança revivida de hoje, o sargento Diarle.

O sargento Diarle me procurou um pouco mais tarde, pediu que eu entrasse no alojamento dos sargentos e contasse toda a história para ele. Contei tudo, não hesitei em nenhuma palavra. Ele parou, refletiu por um momento e pegou uma folha, sentou na escrivaninha do alojamento e começou a escrever. Quando terminou, mencionou que era formado em direito e que tinha muitos anos que não defendia alguém. Me entregou a folha e disse para eu reescrever na minha folha de advertência e entregá-la ao responsável.

Passaram alguns dias, e tive a notícia de que fui absolvido da acusação. Fiquei em choque; já tinha perdido as esperanças de que não seria punido por aquele acontecimento. Mas o sargento Diarle executou um milagre com apenas uma caneta e palavras em uma folha, a mesma folha que eu encontrei mais cedo.

Então toda essa história me irradiou hoje cedo com um sorriso. Nunca mais vi o sargento Diarle depois que saí do Exército; já são 16 anos. Mas mesmo depois de tanto tempo, essa história me trouxe uma sensação boa numa manhã de quinta-feira e me fez perceber o quanto pessoas podem mudar um rumo de uma história e trazer bons momentos apenas através das lembranças. Isso poderia ser uma história triste de como fiquei preso no quartel injustiçado por algo que todos faziam, mas não foi.

Nós somos pedaços de lembranças construídas por momentos e pessoas. Senti na pele como é ser ajudado, não somente nesse contexto, mas em muitos outros também. Isso ajudou a moldar quem sou e mostra como podemos mudar um pouquinho do mundo com um pouco de empatia e solidariedade. Sou grato; sou melhor por conta dessas experiências que me aconteceram.


Imagem real da folha escrita pelo sargento retratada nessa história.


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Posted Using InLeo Alpha



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Que historia maneira cara... uma boa parte dos meus amigos de infancia se tornaram militares a maioria da marinha... ouço cada historia da galera sendo punida de forma injusta e do pessoal zoando o plantao la que ver a historia de um superior defendendo dessa forma para não ser punido por um erro comum é muito legal de se ver...

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Tenho muita história sobre isso pra contar, já ate contei algumas. Mas essa realmente eu guardo com carinho em um canto aqui das minhas lembranças.

Tem muita gente otária por lá, mas as vezes achamos uns caras bem maneiros.

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These are things that happen to learn. You took a lesson from them, that is very good and says a lot about you.
There are people who only focus on the negative, and fail to see the learning in history.
I congratulate you for it.

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Instead of focusing on the negative part, you chose to learn from it and that shows how smart you are
That’s fantastic!

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